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Evitando que as crianças tornem-se adultos com medo de falar em público

Dedicamos esse post aos pais e educadores


O medo faz parte do nosso instinto, é um mecanismo de defesa, de perpetuação da espécie. Sem ele, correríamos riscos de morte. É ele quem faz com que tenhamos cuidados, que calculemos os riscos durante um procedimento ou atividade. Não tem nada de errado em ter medo. Isso é inerente ao ser humano. O problema é quando o medo nos paralisa, impedindo de fazer o que desejamos, de realizar nossos planos e sonhos.
Como esse medo paralisante se desenvolve em nós? Em que momento ele começa a nos prejudicar? 

Para responder a isso precisamos compreender como se formam nossas crenças. Quando elas nos causam limitações, as chamamos de crenças limitantes. 
Elas se formam a partir das experiências negativas que temos desde a infância. 
A criança vai recolhendo informações de todas as situações vividas e vai interpretando-as. Como temos a tendência a generalizar, basta que aconteça algo errado algumas vezes para pensar que será sempre assim. E no momento em que ela passa acreditar que será dessa maneira, passa a padronizar seu comportamento e para de questionar se aquilo é realmente verdade. Acabou de ser instalada uma crença limitante! 
A idade em que elas se formam, tanto as negativas quanto as positivas, geralmente, ocorrem na primeira infância, até os sete anos.
As crenças são opiniões formadas pela fé e convicção. Se forem questionadas, não tem explicação racional ou lógica. “São assim porque são. Porque meus pais diziam que era assim, que meus avós faziam dessa maneira…” 

Os comportamentos, as avaliações e os comentários dos pais contribuem para a formação de crenças na criança. 
O método de educação que é passado ao filho é baseado nas experiências de vida dos pais. Isso é natural, afinal julgam fazer o melhor para seus filhos. O problema é que muitos pais desenvolvem medos com ameças e crenças limitadoras. 

Quantos adultos têm medo do escuro, porque seus pais diziam à criança que encontraria personagens atemorizantes fictícios de histórias ou folclore caso fossem em algum lugar que os pais não desejavam? 
Os professores das séries iniciais também tem uma participação importante nisso, pois podem criar outras crenças ou reforçar às dos pais. 

Pais e educadores precisam ter muito cuidado com o que dizem. Não façam comentários humilhantes e/ou vexatórios. Precisamos educar, sim é verdade, porém não temos o direito de criar adultos limitados no futuro. 

Quando precisar reprender uma criança, fale da sua atitude inapropriada, nunca da sua identidade. Você pode conversar e dizer que não ficou contente com o que ela fez, porém jamais use expressões como “você é burro, não aprende nunca”. A criança poderá acreditar que não é boa o bastante. E como isso poderá se manifestar na sua vida adulta? Perdendo sempre seus empregos, por exemplo. Reforçando, ainda mais, aquela crença. 

Existe uma grande diferença entre fazer e ser. Atitudes podem ser modificadas. No entanto, como modificar a imagem que uma criança tem de si mesma, como pessoa, o seu “eu”? 
As crenças que atingem a nossa identidade são as mais limitantes. São a partir dos comentários que a criança ouve que construirá a imagem que ela terá de si própria. 

O que você acha que acontecerá se ela escutar: “Você não presta pra nada…”, “você é estabanado”, “você é burro”, “seu irmão é melhor que você”, “isso é demais para você, procure algo que esteja ao seu alcance” ou “sua voz é horrível”? 
Para a criança, os pais sempre estão certos. São os seus modelos. As palavras deles têm um peso muito grande. Afinal, eles representam a autoridade. 

Quanto a falar em público, é comum encontrarmos adultos que tiveram experiências negativas na infância ou que receberam comentários limitadores ou humilhantes dos pais e/ou dos professores. 

Não exija perfeição de suas crianças ou de seus alunos. Valorize o esforço dela, mesmo que não tenha ficado como “você” desejava. Lembre-se, não está bom, ainda! É só uma questão de repetição e treino. Nós também não somos perfeitos. E aquilo que fazemos muito bem hoje, no início não foi assim, nós também tivemos que praticar bastante.

Não faça comparações entre duas crianças, principalmente irmãos. Cada ser humano é único. Cada um tem a sua forma de enxergar aquela experiência que está vivendo. Não existe apenas uma única maneira ou a correta, de entender ou codificar o que nos rodeia. 
Vários filhos passam pela mesma experiência e cada um reage de uma forma distinta. Por exemplo, uma criança sai correndo para brincar e tropeça em algo no chão e cai. Uma poderá concluir mentalmente: “preciso ter mais cuidado ao correr”, enquanto outra poderá pensar “correr é perigoso, não vou mais correr”. 

É comum as escolas fazerem apresentações para as famílias em datas comemorativas, dias das mães, pais, etc. São nessas ocasiões que os pais e educadores precisam estar atentos, pois podem contribuir para criar um futuro adulto com medo de falar em público. Aponte os pontos positivos. Valorize a  postura da criança, a sua coragem de subir lá e declamar aquela poesia diante de tantas pessoas. Incentive-a a continuar, pois isso contribuirá para melhorar o seu desempenho. 

Os professores precisam inibir comportamentos de outras crianças como rir ou debochar enquanto uma expressa a sua opinião. Criem um clima afetuoso, amigável e respeitoso na sala de aula. 
Quanto mais à vontade as crianças estiverem para errar, melhores oportunidades terão para refletir e procurar novas estratégias. Afinal, não existe fracasso, apenas oportunidades para aprender. Criem oportunidades e desafios possíveis de acertos para a criança. E à medida que ela vai conseguindo, proponham novos desafios. Sempre reforçando a sua identidade e a sua capacidade. 

Em 1968, os pesquisadores Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, da Harvard University, realizaram um estudo numa escola fundamental da Califórnia. 
Aplicaram um teste de inteligência em todos os alunos. Depois, escolheram 20% dos alunos por sorteio. E disseram para os professores que escolheram pelos resultados dos testes. Afirmaram que tais crianças tiveram um excelente resultado no teste e que apresentariam um rendimento elevado durante o ano letivo. 
Os nomes das crianças foram revelados somente aos professores. Nenhuma criança ficou sabendo dos resultados. 

A única diferença que havia entre tais crianças e as demais, era a expectativa criada na mente dos professores. Como eles esperavam que tais crianças agissem e se comportassem como crianças inteligentes, as trataram como se elas realmente fossem mais inteligentes e talentosas que as demais.  

Todas as crianças foram testadas novamente no final do ano. Aqueles 20% tiveram realmente uma performance significativamente melhor que as demais crianças. 
Por que isso aconteceu? Porque os professores mudaram suas atitudes em relação a tais alunos. Ficaram mais receptivos, envolvidos com sua aprendizagem. Criaram um clima de afetividade, entusiasmo e confiança que influenciou positivamente o desempenho de tais alunos. 
Na psicologia ficou conhecido como “Efeito Pigmalião”. E o inverso, que infelizmente também é verdade, é chamado de Efeito Golem. 
Isso evidencia a importância dos professores na formação de crenças, tantos positivas quanto negativas em seus alunos. 

Algumas vezes a criança nem precisa passar por uma experiência negativa, basta ver a reação do pai ou da mãe diante de algo que já passa a acreditar naquilo. Por exemplo, se a mãe tem uma reação muito intensa ao ver uma barata, muito provavelmente a criança passará a ter medo também. Pois ela tem uma forte identificação com as pessoas que lhe são significativas e passa a introjetar comportamentos como se fossem seus. 
O que você acha que acontecerá se os pais contarem em casa, diante dos filhos, sobre suas experiências negativas em reuniões do trabalho, demonstrando e falando sobre o seu medo de falar em público? 

Veja alguns exemplos de outras crenças limitantes que os pais podem transmitir para os filhos, falando e expondo a sua opinião, e que podem sabotar o futuro sucesso financeiro do filho: 
Dinheiro só traz desgraça; 
Todo rico é ladrão; 
Dinheiro não traz felicidade; 
Dinheiro é sujo; 

Que sabotam a felicidade nos relacionamentos: 
Não nasci para ser feliz; 
Ninguém vai me querer; 
Nenhum homem presta; 

Que sabotam o sucesso no trabalho
O sucesso atrai pessoas falsas; 
Quanto mais sucesso, mais responsabilidade e menos tempo para aproveitar a vida; 
Isso não é para mim; 
É melhor trabalhar como empregado. Ser patrão tem muitas responsabilidades; 
Quem nasceu para tostão nunca vai chegar a milhão”; 

Ao conversar com seu filho, utilize um vocabulário que ele consiga compreender o seu real significado. 
Imagine o que uma criança poderá pensar e, até mesmo, fantasiar ao ver seu pai descontrolado, irritado, dizendo que se atrasou para o jantar porque ficou “preso no trânsito”? Algumas crianças podem perguntar o que é ficar preso no trânsito. Outras ficam assustadas e não perguntam. Comentários dessa natureza, podem fazer com que uma criança tenha medo de dirigir quando adulto. 
O episódio em si é esquecido, ficando apenas a emoção gravada no seu inconsciente. 

Sempre que uma criança quiser falar em público, seja numa reunião de família ou na escola, apoie e valorize. Porém, tenha bom senso para não expor a criança a situações que possam ocorrer comentários vexatórios ou humilhantes. Verifique o contexto, as pessoas presentes e decida se é o local ou a situação é apropriada para isso. 

Os pais que têm medo de falar em público, precisam ter cuidado para não transmitir isso aos filhos. As crenças podem ser quebradas. Então, porque continuar a transmiti-las para outras gerações? Qual é a garantia que você tem que acontecerá o mesmo com seu filho, só porque aconteceu com você? 

Ouvimos pessoas dizer: “Eu já tentei de tudo e não perdi esse medo”. O que você realmente fez, o que é esse “tudo”? E o que você não tentou e que poderia ajudar? O que te impede de adquirir as habilidades de que precisa? Questione racionalmente as suas crenças. 

Agora, que entendemos que percebemos a realidade através das interpretações das nossas experiências, é possível investigar e descobrir o que tem por trás de um comportamento negativo. E descobrir que tem ali um condicionamento mental gravado e reforçado toda vez que algo semelhante acontece. 

Não é nossa intenção, nem deve ser a sua, em procurar culpados, tão pouco produzir sentimentos de culpa em ninguém. 
O que queremos é proporcionar uma reflexão para que pais e educadores tenham a consciência da sua importância na formação de crenças em uma criança. 

É possível formar crenças positivas, assim como podemos quebrar crenças negativas. Como fazer isso? Usando o mesmo princípio para a formação dela, a repetição. Reforçando aspectos positivos, principalmente, na identidade da criança: “Você é inteligente”, “você consegue”, “quanto mais você tentar, mais fácil será”, “você está indo bem”, “estou orgulhoso de você”, “você é bom nisso”, “parabéns”! 
Desenvolva a autoconfiança e autoestima da sua criança. Soltem as amarras e permita que elas tenham um futuro brilhante. Você é responsável por isso.


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